Sabores novos, vistas novas - minha visita ao Acre.

10 de jul. de 2012














(In English)


Bom, esse vai ser um post comprido.
Que se há de fazer? Foram sete dias de novidades sem parar, e tenho um bocado de coisas pra contar pra vocês.
Quem quer saber das receitas e não das histórias vai precisar esperar um pouco mais, já que ainda não testei na minha cozinha as receitas que anotei lá. Algumas nem vai dar pra testar (como o feijão cozido no leite de castanha, já que não tenho acesso a castanha verde aqui em São Paulo), mas escrevo pra vocês mesmo assim a título de curiosidade. 


No flickr tem fotos com mais espírito de turista (aqui), as que vou colocar no blog são - adivinha só - as que têm a ver com comida.
Antes de mais nada, as duas perguntas que ouvi de alguns amigos quando souberam que fui ao Acre:
1. O Acre existe mesmo?
R: Existe, juro. Tirei as fotos para comprovar. haha


2. Nossa, Flora, o que você foi fazer lá, tão longe?
R: Fui conhecer e visitar o meu pai, que está morando em Rio Branco há quase dois anos.
Cheguei a Rio Branco na hora do almoço, na verdade um pouco tarde pra isso: 15h.
Foi um pouco difícil achar algum lugar na rua aberto, por isso acabamos comendo em um restaurantinho do shopping.
Mesmo sendo um restaurante de quilo que existe em vários lugares do Brasil, me pareceu que ele tinha um toque local.
Em todos os lugares onde comi feijão ele vinha temperado com pimenta de cheiro, com jambu cortado em tiras largas (coisa de 1,5cm) dentro do caldo e necessariamente acompanhado de farinha de mandioca.
A que vi mais vezes é o que o pessoal chama de farinha d'água, porque ela é escaldada, diferente da que é mais comum no sul do país, que chamam de farinha seca.
E o jambu é uma verdura, digamos que se pareça com folha de couve. Só que ela tem um sabor bem característico, um pouco "travoso" e que entorpece a língua de leve. Gostei muito.
Pois bem, além do feijão com pimenta de cheiro, jambu, e acompanhada de farinha, não pode faltar o peixe de rio.
Em outro almoço, na casa do meu pai, a secretária dele, Dona Francisca, preparou tambaqui cozido.
Experimentei só pra dizer que experimentei, e no fim acabei gostando.
Apesar de o peixe ser cozido, ele não fica gosmento nem desmanchando, pra mim a textura parecia como se tivesse sido assado, só um pouco mais macio. Muito gostoso.
Mas fiquei sem jeito de fotografar o prato na frente da Dona Francisca, acho que ela tinha me achado suficientemente engraçada e urbana sem eu fazer isso. Haha.
Era uma figura!
Me contou um pouco das comidas que são comuns lá, como o tacacá.
Mas pra ela parecia tão fora do comum alguém não saber o que é tacacá, que me explicou como se todo mundo soubesse o que é, e não entendi lá muito bem.
Enfim, tacacá é um prato feito a partir do tucupi, um tipo de caldo que resulta da mandioca ralada crua, que tem textura de goma. Geralmente se acrescenta caldo de peixe, cebola, alho, pimenta, cheiro verde, jambu cortado em tiras, e camarões secos. É uma comida de rua, é servida em várias barraquinhas pela cidade toda, dentro de cuias. Minha foto não ficou das melhores, mas vejam:








Eu nem experimentei porque tenho uma alergia séria a camarão, mas acho que ia estranhar bastante a textura do tucupi.


Depois, outra pessoa com quem conversei foi a Denyse, que nasceu e cresceu em Rio Branco, depois morou um tempo em Belém e hoje vive nos Estados Unidos, trabalhando como engenheira agronoma.
Calhou que ela é mãe de um super amigo do meu irmão menor, por isso a conheci e pude conversar e ficar perguntando coisas em geral. As receitas que tenho, foi ela quem me passou.
A Denyse me contou que a culinária acreana deriva da mistura de nordestinos e dos povos indígenas na região, e tem um pouco de influência árabe, por conta dos comerciantes que surgiram na região durante o ciclo da borracha.
Algumas das comidas típicas são: muito peixe de rio, tucupi com pato, bolo de macaxeira, salteña (tradicionalmente recheada com frango - vem do país vizinho, Bolívia), o feijão cozido no leite de castanha, e frango picante - que pode tanto ser cozido como pode ser sequinho.
Tem um outro prato típico que chama baixaria, que de acordo com um carioca que mora em Rio Branco há vários anos, Cazuza, é a única comida genuinamente acreana.
Baixaria é um prato que se vende no mercado do bosque na madrugada, geralmente quem come são as pessoas que estão voltando de alguma festa, ou os trabalhadores braçais antes de começar o dia.
É um prato feito com arroz de colorau, cuscuz de milho, carne moída e dois ovos fritos.
Se eu tiver me esquecido de algum item que vai na baixaria, os locais por favor ajudem a lembrar :)


Algumas fotos do mercado na madrugada, e da tapioca com manteiga que comi lá; da Maria preparando a tapioca, além da moça sorridente que preparava quibes (quase iguais aos quibes comuns, só que troca o trigo por mandioca. É uma adaptação local do alimento árabe):










As frutas são um capítulo à parte. Muito diferentes das frutas doces que são mais comuns pelas bandas onde já morei: maçã, banana, pêra, uva, mamão, manga, etc.
Claro que lá também tinha tudo isso, mas as frutas típicas da Amazônia, como o açaí, cajá, buriti, bacaba, graviola, cupuaçu tem uns sabores fortes, na maioria um pouco azedinhos, com um certo gosto de terra. É difícil explicar pros outros como é o gosto de algo que eles nunca experimentaram, né? Haha.
E não cheguei a ver as frutas em si. O mais comum é encontrar as polpas sendo vendidas em sacos de 1l no mercado municipal Elias Mansour (chamam de mercado velho), que o pessoal usa principalmente para preparar sucos e doces - a não ser pelo açaí, que dá pra colocar na granola de manhã como se fosse iogurte.




Na foto, da esquerda pra direita: graviola, maracujá, [não sei qual é essa], acerola, buriti, dois sacos de açaí. Fora isso, vocês repararam que engraçado que os ovos são vendidos em saquinhos?
Me parece a coisa menos prática dessa vida. 
Tem também a banana comprida, que verde é usada pra fritar e servir com o feijão, e madura é usada em mingaus e outras coisas mais.
Na segunda foto do post tem uma moça preparando a banana para cozinhar, no mercado do bosque, e na terceira foto tem um mingau misto de banana com tapioca. Abaixo, a banana comprida à venda no mercado velho (Mercado Elias Masour):


Depois, umas graviolas à venda no mercado (não estavam lá muito bonitas. São essas que parecem uns abacates com pontinhas, perto dos mamões):




No quintal do meu pai pude fotografar um pé de açaí, com algumas frutinhas esparsas:


E no horto florestal de Rio Branco, tinha esse pé de buriti (o que parece fogos de artifício):
Ainda no horto, vi esse pé de pupunha, que apesar de ser um fruto não se come como fruta.
Mostrei na foto o pé inteiro, a flor e os frutos ainda verdes.


Ele é amiláceo (meio "batatoso"), e tem bastante fibra e gordura.
Ouvi dizer de uma pessoa que se come com manteiga na hora de tomar café, outra pessoa me disse que se usa pra preparar um bolinho que chama bodó, que também é para acompanhar café. "Como se fosse o bolinho de chuva daqui", ela disse.
Abaixo, a pupunha cozida, antes de descascar, e já no meu prato, purinha:






Ainda no assunto frutas, existem os sorvetes e picolés, que vão me dar saudade demais.
Como contei no post anterior, eu trouxe polpas de algumas frutas, por isso vou tentar fazer minhas próprias versões.
Na sorveteria Pinguim comi os melhores sorvetes de massa, como esse de cajá:
E na sorveteria Acrebom comi os melhores picolés, como esse de buriti:


Tenho certeza de que não falei de todas as coisas, e algo vai ficar faltando, mas por enquanto ficamos assim. Além do tempo que passei em Rio Branco, teve um dia em que fui visitar Porto Acre, uma cidade vizinha, onde teria um passeio de barco pelo seringal.
Acabamos não chegando a tempo de pegar o barco - o que foi uma pena, mas é um motivo a mais para eu ir visitar de novo. Foi lá que tomamos banho de rio (no post anterior e no flickr tem fotos de lá).
Vou voltar com algumas receitas, e quem tiver receitas pra me dar também, por favor escreva pra blogehoquetemprahoje@gmail.com
Preciso pensar no que fazer com a farinha de tapioca, além de mingau, e em como usar as frutas que estão no congelador me esperando.


Espero que tenham gostado desse pequeno relato de viagem, e que me desculpem pelo sumiço de um mês. Não devo demorar pra postar mais "detalhes tão pequenos", e com certeza semana que vem vai ter post novo!

7 comentários:

João Paulo disse...

QUE DEMAIS FLORA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! FIquei morrendo de vontade de conhecer lá! Um beijo!

Isadora disse...

que demais estes sabores diferentes! muita coisa nunca provei!!! adorei adorei!!!

http://deliciasdaisa.blogspot.com.br/

Unknown disse...

Tá muito legal este post "turista comilão" no Acre.
Adorei o "Acre bom", alíás, deve ser o único estado que tem nome de sabor né?

Carina Abreu disse...

Olá Flora! Que blog deliciosamente lindo! :) Vou "degustá-lo" com calma! Bjs

Flora. disse...

Gentes, se tiverem a oportunidade de conhecer o Acre, eu recomendo.
Na verdade, isso vale pra qualquer lugar que não se pareça com o que a gente ta habituado, foi uma experiência ótima.
Como (felizmente) ando trabalhando na loucura, ainda não parei pra cozinhar com os ingredientes que trouxe de lá. Só o que tenho usado são as castanhas, e um pouco da farinha de mandioca.
Mas I'll be back (ao assunto). haha

Carina, fico feliz que você gostou :)
Dá uma curiosada nos arquivos, veja que tal. Qualquer idéia que você tiver pra me dar, ou dúvida ou seja o que for, escreve aí.
Adoro quando as pessoas comentam hehe

Goreti mosimann disse...

Flora. Gostei muito de "conhecer" um pouco o Acre através de teus olhos e de tuas papilas gustativas. Deu até vontade de conhecer também! Vamos dar um pouco de tempo ao tempo e quem sabe, não é, dê para ir. Teu pai deve continuar lá por mais um tempo. Beijo. Tia Gô

Flora. disse...

Oi tia Gô.
Aposto que ele não sai mais de lá... hehehe
Vale a pena a visita.
Apareça mais vezes no blog. :)
Beijos!

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