Por onde começar?

05 abril 2024

Um pedacinho da nossa cozinha quando morávamos em Porto Alegre.

Por onde a gente começa a preparar essa tal comida gostosa, prática, justa, e saudável?
O jeito que
eu mais gosto de cozinhar, que foi se formando ao longo dos anos, é pensar a partir dos ingredientes frescos.
Olhar o que tenho de ingredientes frescos à disposição (verduras, hortaliças, folhas, frutas) e inventar alguma coisa a partir daí.

Por exemplo: tenho um monte de banana. O que vou fazer com elas pra comida desses próximos dias, dessa semana? Ou então, tenho muita beterraba. Etc.
Parto dos ingredientes frescos pra fazer esse raciocínio, e aí vejo o que tenho de grãos, farinhas, óleos, temperos secos (aka ingredientes minimamente processados) pra fazer um planejamento, seja pro dia, pra semana, pra alguma refeição especial.


Por motivos de: to morando na Finlândia, não tenho mais acesso à comida fresca do jeito que to acostumada.
Algo que gosto muito, feira, não é tão comum por aqui (já já conto porquê que não é comum).
Um motivo pra gostar tanto de feira é que esta é uma forma de comprar a comida diretamente de quem tá produzindo. Das pessoas que têm todo o trabalho de cultivar um alimento, e assim podem vender direto pro cliente final e ter um retorno financeiro justo por esse trabalho.
Além de apoiar o pequeno produtor, o que considero muito importante, na feira tenho acesso a ingredientes locais, frescos, e possivelmente com preço melhor do que o do supermercado, e que também é o que tá crescendo melhor na época - o que resulta em comida mais saborosa, com menos veneno.

Na feira, aumenta também a probabilidade de encontrar ingredientes que não sejam tão comuns, sejam variedades distintas (já percebeu QUANTOS tipos de banana existe? De couve? De feijão?) ou plantas diferentes mesmo (goiaba da serra, uvaia, vinagreira, butiá, pimenta cambuci...).
E isso é muito bom pra pôr a cabeça pra pensar. Pra nos fazer descobrir novos sabores, novos jeitos de preparar, e até mesmo a história que tem junto, do uso que outras pessoas já vinham fazendo desses alimentos.

Entendo que pra muita gente isso não é tão prático, que o mercado vai ser o principal lugar pra comprar comida. Mas esse é o meu jeito preferido de cozinhar.
Estou acostumada a ter por perto um monte de tipos diferentes de frutas, de hortaliças, a cada pouco descobrindo algo que não tinha visto antes.

E me pega muito o fato de que não tenho como fazer assim agora, porque existe uma monotonia, em comparação ao que estou habituada.
Preciso encontrar outro ponto de partida pra cozinhar.

Aqui, a maior parte da comida fresca vem de outros países, porque é um lugar bastante frio e a estação de cultivo é curta. Pra hortaliças e frutas, tem um tempo bem limitado, mesmo na região sul.
Existem cultivos em estufa, por exemplo, mas esta forma de produzir alimento custa bastante energia. Não só pela necessidade de aquecer o ambiente, mas também de fornecer luz pras plantas, já que no inverno a luz do dia diminui bastante.
Até onde entendi, a dieta tradicional na Finlândia se baseava em caça e pesca, cereais como o centeio e a aveia, e coisas que nascem debaixo da terra e que dá pra estocar ao longo do ano, como batatas.
Durante o outono, especialmente, tem uma boa oferta de cogumelos e berries, além de uma variedade maior de hortaliças. Mas durante o frio, basicamente o que está disponível são os produtos de origem animal, os grãos (eles têm cultivo de algumas leguminosas também), e o que tiver sido conservado (como berries congeladas, cogumelos secos, picles e essas coisas).
Enfim, este é um tópico que quero estudar mais e entender melhor.

Há bastante tempo interessada em comer (e também vestir e etc) produtos locais, é difícil pra mim perceber que preciso consumir uma quantidade considerável de comidas que vêm de longe.
Porque a logística envolve mais transporte, e consequentemente mais combustíveis.
É mais difícil entender a origem desse alimento, saber como é o cultivo dele, em que condições trabalham as pessoas envolvidas na produção, como é a remuneração delas.

Voltando às panelas, no momento estou tentando organizar minha cabeça de outro jeito, organizar outra lógica pra cozinhar.
Já que aqui os ingredientes frescos, que costumavam ser a minha base, têm menor variedade, minha conclusão, por enquanto, é que vou precisar caprichar bastante em diversificar os preparos e de temperos, pra ter uma mesa que não seja monótona.

Já parou pra pensar qual é a tua lógica quando vai preparar comida?
Conta pra mim como é o teu raciocínio?

2 comments:

Anônimo disse...

Realmente deve ser 1 adaptação difícil sair de um país tropical com tanta fartura em frutas e verduras abundantes o ano todo pra morar num local tão frio.

Flora disse...

É verdade! Precisa mudar todo o jeito de pensar a cozinha no dia a dia (entre outra adaptações, hehe).
Mas com curiosidade, vou descobrindo esse novo jeito aos poucos :)
Um abraço grande!

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